sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

leonel: o rústico doce que me encantou



meu querido e fiel escudeiro h. adams, espero que seus dias estejam leves e ensolarados. por aqui está tudo bem. estou organizando algumas fotos do velho baú. em noites de chuva e vento, nada melhor. uma taça de vinho e estou pronta para voltar ao passado. algumas fotos já carcomidas pelo tempo me levam de volta a séculos atrás. em uma dessas encontrei leonel. 
já contei a você a história dele. sobrinho do seu joão, o peão da fazenda de dona mércia. lembra? o que talvez você não saiba é que tivemos um grande e rápido romance mas nos perdemos na vida. 
conheci leonel quando estava passeando perto do rio,  no final da tarde, depois de cavalgar nos cavalos mansos de dona mércia. a filha dela, filó, costumava sair comigo. éramos amigas. deixamos os animais no estábulo e eu já estava meio cansada, só pensava em ir pra casa. resolvemos ir até o rio para ver o por do sol, quando ele chegou montado em um cavalo imponente. até nos assustou. perguntou se queríamos carona, afinal ia para a fazenda de filó encontrar o tio que trabalhava por lá. agradecemos em coro e rimos as duas. 
filó aceitou. abriu imediatamente um sorriso maroto e se mostrou interessada no rapaz meio bronco que se oferecia para ajudar. eu me despedi dos dois e segui rumo a casa de meus pais. filó fez questão de me visitar no dia seguinte.
– estou apaixonada, decretou ela. – ah, ele é lindo, e quase me beijou ontem, contava eufórica uma filó que não se aguentava dentro da saia.
– jura? perguntei eu. como foi?
filó contou que ao montar o cavalo se agarrou às costas de leonel.
–  e o beijo? perguntei.
– ah foi na hora de descer da montaria, ele me ajudou e acabamos ficando com o rosto coladinho e ele poderia ter me beijado, se quisesse. mas não quis, contou filó já meio emburrada por ter sido esnobada.
– ah querida, você queria mesmo beijar leonel?acho um rapaz meio tosco, bronco de tudo, comentei com desdém.
– sim, quero. ele é lindo! você não vê? aquele cabelo , os olhos profundos, as mãos calejadas...estou apaixonada, comentou filó já com ares de sonhadora.
– está bem filó, concordo que é bonito sim. o jeitão rústico dá um certo charme, falei com ironia.
ficamos as duas brincando de adivinhar como seria o beijo de leonel. e assim passamos a tarde nos divertindo. sentamos na varanda da casa dos meus pais. eles haviam saído para um trabalho na igreja, fiquei com filó e os cães. vimos ao longe um cavaleiro. era leonel que mais uma vez ia até a fazenda de filó conversar com o tio.
– eu vou embora. vou encontrar com ele lá. tchau, despediu-se filó na maior correria.
fiquei ali sentada, vendo o sol se por e acompanhando o cavalo de leonel que sumia aos poucos. naquela noite sonhei com ele. sonhei que nos beijávamos. durante o beijo nossos corpos flutuavam e nos movíamos devagar de um lado para o outro, como se estivéssemos dentro d´água. acordei sentindo uma saudade dele, uma saudade maluca já que nunca havíamos conversado e ele sequer sabia meu nome.  tentei tirar isso da cabeça. filó estava interessada nele. eu não tinha esse direito. fui tratar da vida, e á tarde, fui ler embaixo das árvores próximas ao caminho do rio.
peguei meu cobertor e me deitei por lá. meu livro estava muito interessante, tanto que não ouvi quando sorrateiramente alguém se aproximou. ele disse olá.
– nossa, que susto, falei quase aos gritos.
– calma, sou eu. leonel, ao seu dispor. esticou a mão em minha direção e retribui.
– eu fico bem desligada quando estou lendo, falei me desculpando .
– tudo bem, eu fiquei um tempo aqui te observando. você sabia que faz um biquinho quando lê?
– ah, é? não, eu...é? perguntei desajeitada.
– é. respondeu sorrindo e piscando pra mim.
– e há quanto tempo você está ai me olhando? deu até pra perceber isso? fingi uma indignação.
– ah pouco,  mas é que eu presto atenção no que me interessa, disse ele já sentando ao meu lado.
ficamos os dois conversando. ele me contou que o pai é irmão do seu joão, o peão na casa de dona mércia, e está muito doente. quase todos os dias precisa ser carregado até o hospital. às vezes fica internado, outras o médico libera. não se sabe o que ele tem. e o tio ajuda bastante. por isso tantas visitas a fazenda de dona mércia.
a tarde passou rapidamente, leonel quis me levar na garupa do belo cavalo mas fiquei com medo de filó nos avistar e dispensei. voltei quase correndo para casa. deixei o livro cair, voltei para pegar e pude ver leonel indo embora em direção a casa que dividia com o pai e os irmãos.
ele nunca pode terminar os estudos porque perdeu a mãe muito cedo e não teve mais chance de ir à escola. mesmo meio ignorante contou que tinha alma de artista. fazia poesia e gostava de cantar. prometeu uma serenata qualquer dia desses. eu sonhei com ele novamente.
os dias passavam sem graça. filó demorou a aparecer e eu sumi da casa dela. não queria encontrar com ela nem com leonel. mas ela foi me visitar. disse que leonel passou por ela, deu boa tarde mas nem a olhou direito.
– e pior, voltou atrás e perguntou por você! disse filó com um pouco de raiva na voz.
– perguntou por mim? por quê?
– não sei, estava muito curioso para saber se hoje você ia ler embaixo de alguma árvore...não entendi direito, já falava filó com uma raiva explicita.
– filó, eu não estou interessada nele. se quiser, fique com ele todo pra você mas não tenha raiva de mim, eu não fiz nada. quanto mais eu falava mais ela se irritava e mais eu mentia. é claro que estava interessada sim, não parava de sonhar com ele. mas como admitir isso a uma amiga? eu tinha que sublimar tudo aquilo.
– ah, quer saber? fique com ele pra você. eu tenho mais o que fazer. um menino burro e pobre. nem quero saber mais, disse filó num ataque de fúria e despeito.
– você quem sabe filó. depois não se arrependa, avisei.
– nunca vou me arrepender, de verdade. afirmou filó.
mudamos de assunto e passamos mais uma tarde divertida jogando cartas e rindo da vida.
mas eu não parei de pensar em leonel. ele tinha uma boca carnuda, um sorriso encantador. o cheiro que mal senti dele já havia me deixado inebriada. eu não podia admitir, mas eu estava pensando nele mais do que deveria.
uma manhã, eu havia acabado de acordar, ainda vestia minha camisola e me espreguiçava na cama quando minha mãe me entregou uma carta. estava lacrada, num envelope branco. era de leonel. eu soube imediatamente. a letra mal desenhada, desengonçada, esforçada. dizia nela:
“você aceita um convite desse pobre peão? vamos passear  na cidade hoje à noite? diga que sim. vou esperar você às 20h na porteira. um beijo, seu leonel”. meu coração disparou. fiquei o dia todo flutuando de alegria. inventei que iria encontrar filó à noitinha e fui rumo à cerca onde leonel me esperava. estava lindo. de banho tomado, escolheu a melhor roupa, estava cheiroso. nervoso também. tinha nas mãos uma flor  roubada do meu próprio jardim.
fomos andando pela estrada de terra em direção a cidade. ele me disse que estava sem muito dinheiro mas dava para garantir um algodão doce na praça. eu ri já fascinada por ele.
fomos até a praça. o coreto estava lotado. nos divertimos, rimos. ele segurou minha mão timidamente. passeamos de mãos dadas pelas ruas da cidade, como dois namorados. em certo momento tiramos a foto que achei no baú antigo. ele escreveu nela : um beijo, seu eterno leonel. fiquei emocionada.
enquanto caminhávamos sob a lua ele cantava baixinho uma canção romântica. o tempo foi passando e leonel foi me levar em casa. voltamos pelo mesmo caminho de terra. passamos em frente à casa dele. as luzes estavam apagadas, apenas um lampião mal iluminava a sala. ele explicou que o tio havia levado o pai mais uma vez para o hospital e que ele estava sozinho cuidando de tudo. os irmãos passavam férias na casa de uma tia. perguntei se poderíamos entrar para eu tirar o sapato que estava me machucando os dedos. claro, respondeu ele. e entramos na cabana de leonel.
tudo muito simples, rústico. mas brilhava de tão limpa. um cheiro bom de café feito no forno a lenha tomava conta dos cômodos. leonel me olhava, tímido mas sedutor. e eu? eu estava apaixonada por aquele moço.
ele passou as mãos no meu rosto. tinha calo nelas. eram mãos ásperas de trabalho, mas de uma leveza apaixonante. ele se aproximou de mim, me tomou pela cintura e me puxou em direção a ele. nos encaramos olhos nos olhos e ele me beijou.
no início foi um beijo suave, encostando os lábios, como pedindo licença. depois a língua dele tomou conta da minha boca. me entreguei aquele beijo como se nunca mais fosse beijá-lo. nos abraçamos. nossos corpos ficaram colados, como se estivéssemos dançando. nos beijamos mais e mais. não tinha fim. era um beijo que me completava, molhado , cheio de tesão e desejo.
fomos nos beijando em direção ao quarto dele. meus sapatos ficaram pelo meio do caminho. no quarto sem porta, a cama era pequena, com colchão mole. nos deitamos. ele por cima de mim e eu sem fôlego e sem resistência embaixo dele.
as mãos de leonel percorreram minhas pernas, meu quadril. ele começou a explorar cada parte do meu corpo. eu mal conseguia respirar. meu coração estava quase explodindo. ele levantou minha saia meio inseguro. eu deixei. ele me olhava inteira como se decorasse os detalhes do meu corpo, da minha pele. tinha fogo nos olhos.
abriu minha blusa e começou a beijar meu pescoço, meu colo, meus seios. foi descendo com a língua até me encontrar molhada de desejo. eu me contorci de prazer. passava a mão nos cabelos dele enquanto ele enfiava a língua em mim, me chupava, saboreava e me deixava ainda mais molhada.
meu corpo estava quente. ele me fez gozar na boca dele. eu gemia baixinho. leonel voltou a deitar em cima de mim. senti o tesão dele. seu pau duro encostava nas minhas pernas fazendo pressão. nossos movimentos pareciam ensaiados e ele entrou em mim tomando conta do meu corpo inteiro. ele estava dentro de mim e eu podia sentir cada poro da sua pele.
ele pulsava me matando de prazer. eu queria mais e mais. gozamos os dois naquela cama bagunçada. eu não conseguia acreditar que aquele peão lindo sorria pra mim com aquela cara de garoto que se lambuzou com doce. doce, é isso. doce é a melhor palavra pra descrever leonel. doce e rústico.
ele ficou ainda um tempo em cima de mim olhando nos meus olhos, ofegante e sorrindo. eu não queria sair dali nunca mais. mas a realidade bateu a nossa porta. literalmente. o tio chegava carregando o pai dele. tivemos que sair correndo da cama e nos arrumar. eu estava despenteada e feliz. não conseguia esconder o que tinha acabado de acontecer.
meio envergonhados, cumprimentamos os dois e sai correndo porta a fora. leonel foi atrás de mim e me acompanhou até em casa. nos despedimos com um beijo apaixonado, com a promessa de nos encontrarmos novamente. ele disse no meu ouvido que tinha sido só o começo e mais:
– quero muito mais, te quero inteirinha só pra mim. boa noite.
ele passou a mão na minha boca, virou as costas e foi embora sem olhar para trás. fui dormir com a cabeça nas nuvens e o corpo ainda sentindo o prazer do toque dele.  
no outro dia cedinho ele estava na porteira me esperando. fui correndo ao encontro dele. nos beijamos apaixonadamente. ficamos nos esfregando, enlouquecidos  e falei para ele que era perigoso ficar por ali e que meu pai não ia gostar nadinha daquilo.
fomos correndo para a casa dele. estava vazia. ele só me jogou na cama, de bruços. tentei falar mas ele não deixou. tapou minha boca, levantou minha saia, rasgou minha calcinha e me comeu ali, de quatro, sem carinho, sem beijos, sem palavras mas com desejo, tesão e força. foi rápido, intenso e arrebatador. eu estava totalmente entregue. quando virei em direção a ele, tentando me recompor daquela explosão, leonel  estava chorando.
– meu pai, ele não vai resistir, foi para o hospital novamente, mas está muito fraco. meus irmãos vão chegar no fim do dia, estamos nos preparando para o pior.
eu não conseguia pensar direito. ainda sentia ele pulsando dentro de mim, eu ainda sentia aquele homem me invadindo. suspirei e mesmo assim dei meu apoio. fiquei triste por ele.
fui embora com um aperto no coração. encontrei filó que fez questão de virar o rosto. já havia chegado aos ouvidos dela que eu estava passeando pela cidade de mãos dadas com leonel. fui para casa.
a noite chegou e não tive notícias do pai dele, nem dele. outro dia chegou, e mais outro. quase uma semana havia se passado.  na casa de leonel tudo às escuras. fui até seu joão, na fazenda de filó.
– menina, eles foram embora. o pai de leonel, meu irmão, não aguentou e morreu . os filhos fizeram um enterro simples, nem avisaram ninguém. leonel pediu para dizer para a senhorita, caso a encontrasse, que ele vai voltar. vai arrumar a vida dos irmãos na casa da minha irmã e vai voltar pra encontrar a senhorita. assim explicou seu joão.
mas leonel nunca mais voltou. não escreveu, não apareceu. seu joão também se mudou e eu não soube mais nada, nenhuma notícia da família. filó parou de falar comigo e fez questão de não dar informações. foi assim que nunca mais vi leonel. uma paixão que me enlouqueceu por algumas semanas. o grande amor que poderia ter sido e nunca foi. eu parei de procurar respostas. só espero que ele esteja bem. ele e os irmãos. agora deixa eu ir ali terminar de revirar mais um pouco o velho baú e suas fotografias...mande notícias querido h. adams.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

e-book de literatura fantástica


E-book com os contos selecionados do 1º Concurso de
Literatura Cranik. Caso queiram o link do download para divulgação, segue
ao lado: http://www.livrodestaque.com.br/concurso_cranik_2012.pdf


o meu está na página 63. é o 9º conto.